quarta-feira, 24 de outubro de 2012

CERAL no Colóquio da PUC



O Programa de Pós Graduação em Ciências da Religião realizou no dia 17 de outubro (quarta - feira) o colóquio “A religião segundo o Censo”. O evento realizado no auditório Prof. Marco Antonio Marques da Silva (sala 100-A, 1º andar, prédio novo) teve início às 9hs. Entre o público presente, estavam alunos do Programa e também muitos interessados da comunidade acadêmica e não acadêmica em geral. O CERAL estava representado pelo professor Dr. Frank Usarski e pelo Dr. Rafael Shoji que também participaram como palestrantes.
            O primeiro palestrante do evento foi o Prof. Dr. Jose Eustáquio Diniz Alves (ENCE/ IBGE) que nos ofereceu uma síntese dos dados sobre religião do último censo (2010).
            Depois o Prof. Dr. Edin Dued Abumannsur (PUC-SP) fez uma análise sobre os dados relativos ao campo evangélico no Brasil. Edin pontuou a questão das diferentes denominações e da grande variedade de igrejas.
            Rafael Shoji foi o palestrante a dar início às atividades da parte da tarde. Sua exposição foi uma introdução de como se trabalhar com os dados do IBGE dentro de nossa área (pesquisa em religião). Shoji também mostrou as diferentes formas de abordagens dos dados, que vão desde porcentagens de ampla abrangência até dados específicos e mais exatos que são os microdados.
            O Professor Dr. Frank Usarski também falou sobre a importância do estudo destes dados para as pesquisas em Ciências da Religião. O professor fez abordou a temática dos dados do IBGE através de seus estudos sobre o Budismo no Brasil.
            A Prof. Dr. Maria José Rosado da (PUC/GREPO) nos trouxe uma leitura em relação ao catolicismo focando principalmente a questão da secularização.
            Depois foi a vez do Prof. Dr Silas Guerreiro que trouxe uma análise dos dados do IBGE que focam os “sem religião” e as religiões esotéricas.
            No final os Palestrantes Frank Usarski, Rafael Shoji e Silas Guerreiro reforçaram a necessidade do estudo e abordagem dos dados por parte dos estudantes e pesquisadores em Ciências da Religião. Shoji argumentou sobre a importância de projetos conjuntos com outras áreas, como computação e matemática, já que a formatação e análise dos dados, bem como a montagem para pesquisas que considerem tais dados dependem não apenas de um profissional, mas uma equipe interdisciplinar. Sem dúvida, isto tornou-se uma condição necessária para que possamos, como bem colocou Usarski, realizar uma Ciências da Religião aplicada.

Rafael Shoji (CERAL) falando sobre o tema: Desvendando os dados do IBGE - uma leitura instrumental



José Eustáquio Diniz Alves (IBGE) ofereceu uma sintese dos dados do últimos censo sobre a religião

 

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Entrevista com o Prof. Dr. Frank Usarski em relação aos dados sobre o Budismo no censo do IBGE

O budismo étnico está gradativamente envelhecendo

Entrevista com Frank Usarski

Por: Thamiris Magalhães

“No decorrer do último censo, identificaram-se 243.966 pessoas como adeptos da religião budista. Isso significa um aumento de 29.093 pessoas em comparação com os números finais do censo de 2000 (214.873)”, aponta o pesquisador da PUC-SP, Frank Usarski, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line. Para ele, em termos percentuais não havia mudança significativa. E completa: “Pelo contrário, devido ao crescimento da população, a proporção dos budistas no Brasil ficou inalterada. Tanto em 2000 como em 2012 os budistas autodeclarados representam apenas 0,13% da população brasileira”.
Frank Usarski é doutor, com tese sobre os mecanismos e motivos da estigmatização pública de novos movimentos religiosos na Alemanha Ocidental e possui pós-doutorado na área de Ciência da Religião pela Universidade de Hannover, na Alemanha, sobre o papel das religiões nas Exposições Mundiais entre 1851 e 1900. Desde sua chegada ao Brasil em 1998, faz parte do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP. Em 2009, obteve o título de Livre Docente na área de Ciências da Religião pela PUC-SP. Entre suas atividades acadêmicas, destacam-se a pesquisa, o ensino e diversas publicações sobre as religiões orientais, bem como sobre a história e o perfil atual da ciência da religião. Além disso, é fundador e coordenador da Revista de Estudos da Religião – REVER – e líder do grupo de pesquisa Centro de Estudos de Religiões Alternativas de Origem Oriental no Brasil – CERAL. De suas obras, além de O Budismo e as outras. Encontros e desencontros entre as grandes religiões mundiais (Aparecida: Ideias & Letras, 2009), citamos Constituintes da ciência da religião. Cinco ensaios em prol de uma disciplina autônoma (São Paulo: Paulinas, 2006).

Leia a entrevista na íntegra no site da IHU

terça-feira, 24 de abril de 2012

REVER N.2 DEZ. 2011.

Este número traz na sessão temática sete artigos que discutem as modalidades de transplantação religiosa e adaptação cultural da herança espiritual japonesa nos países que acolheram seus imigrantes, principalmente no Brasil. As reflexões levam em conta, além de considerações históricas, aspectos relacionados à dinâmica da “exportação” de religiões japonesas para outros países, problemas relacionados ao processo de imigração japonesa bem como teoremas e conceitos como os do “hibridismo”, do “sincretismo” e, sobretudo, da “transplantação religiosa”.

domingo, 22 de abril de 2012

Entrevista com Frank Usarski

Em 2009 a Idéias e Letras publicou "O Budismo e as outras: Encontros e desencontros entre as grandes religiões mundiais", do primeiro professor livre Docente do Brasil em Ciências da Religião Dr. Frank Usarski. O livro trabalha não só através de uma perspectiva histórica mostrando o diálogo do Budismo com as outras religiões, mas também mostra um dinâmica de construção de uma religião pela ótica da Ciências da Religião, só estes dois aspectos valeriam para tornar a obra um trabalho inédito de qualidade intelectual. Qualquer pessoa que se interessa pelo estudo das Religiões deveria lê-lo, além de sua abordagem única, vale dizer que o autor é um dos grandes pesquisadores do tema, fazendo parte da vanguarda em âmbito mundial, enfim uma leitura recomendada aqueles que se interessam por Religião e História. Abaixo segue talguns trechos da entrevista do professor feita por Moisés Sbardelotto a IHU online de 21/06/2010.


IHU On-Line – Em um dos capítulos do livro, o senhor fala de “divergências substanciais” entre o Budismo e as demais religiões mundiais. Em linhas gerais, quais seriam elas?

Frank Usarski – Há alguns temas recorrentes no diálogo entre o Budismo e o Hinduísmo, Judaísmo, Cristianismo e o Islã. O tema mais frequente é o do teísmo nas tradições não-budistas que o Budismo vê como um ponto crítico. Outros assuntos são mais específicos e têm sido abordados em diálogos com uma das quatro religiões acima mencionadas. Quanto ao Cristianismo, por exemplo, o Budismo tem dificuldades de atribuir a Jesus Cristo um status divino que ultrapassa sua apreciação “apenas” como um mestre espiritual. Além disso, uma retrospectiva revela que determinados tópicos ganharam uma relevância maior em certos momentos históricos. Para citar novamente o Cristianismo, budistas europeus do início do século XX criticavam fortemente a presença de missionários cristãos em países como China ou Birmânia e o impacto “destrutivo” das respectivas atuações sobre a cultura budista local.

IHU On-Line – O senhor afirma que há “um preconceito fortemente enraizado no senso comum [de] que ‘bem lá no fundo’, no âmago, todas as religiões partem dos mesmos princípios, têm objetivos semelhantes e se unem no desejo de harmonia e de paz no mundo”. Nesse sentido, é possível uma ética mundial, como  defende Hans Küng?

Frank Usarski – Como cientista da religião interessado na comparação das religiões, tenho problemas com a ideia ingênua de que todas as religiões querem a mesma coisa e compartilham uma essência comum. Ao mesmo tempo, concordo com a busca de Hans Küng  para uma ética mundial. Mas esta só pode der construída a partir do reconhecimento das particularidades, da integridade e da dignidade de cada um dos interlocutores envolvidos. Caso contrário, acontecerá o mesmo que ocorreu com os chamados “direitos humanos universais”. A respectiva declaração foi lançada em 1948, portanto, em um momento no qual países ocidentais representavam a maioria dos membros da ONU. Depois da descolonização e da entrada de países recém emancipados, foram articuladas dúvidas sobre a “universalidade” dos valores oficialmente sancionados. O resultado foi que, em 1981, a Organização para a Unidade Africana lançou a chamada “Carta de Banjul dos Direitos Humanos”, que representa uma reformulação dos direitos “ocidentais” de 1948. O mesmo vale para Declaração de Cairo de Direitos Humanos pela XIX Conferência Islâmica dos Ministros Exteriores em Cairo (1990). Isso significa que há partes do mundo insatisfeitas com a versão oficial dos Direitos Humanos, uma vez que os últimos não refletem as experiências historicamente acumuladas por povos localizados em partes “não-ocidentais” do mundo.  É obvio que uma ética mundial deve transcender essas frentes. Mas isso só pode acontecer quando as vozes de todos os interlocutores têm o mesmo peso. O primeiro passo nessa direção é o reconhecimento do fato de que há muitas plausibilidades em jogo e de que muitas das diferenças têm suas raízes em doutrinas religiosas distintas e em alguns pontos inconciliáveis.

IHU On-Line – Pode-se dizer que o Budismo é uma religião tolerante em relação com as demais? Quais seriam os limites e possibilidades de diálogo entre o Budismo e as demais religiões mundiais?

Frank Usarski – O Budismo desfruta uma imagem muito positiva. Muitos o veem como a mais pacífica dentre as grandes religiões. Em minha opinião, a doutrina budista tem esse potencial. Porém, nenhuma religião nasce e se desenvolve em um vácuo, e poucos dos seus representantes são santos, mas sim sujeitos a tentações “mundanas”. Há momentos na história que demonstram que o Budismo também é vulnerável nesse sentido. Isso vale, por exemplo, para a instrumentalização de instituições budistas locais por parte do governo japonês em função da perseguição violenta de cristãos no país a partir de 1631. Mas, ao longo da história, e comparado com as duas outras religiões universais, isto é, o Islã e o Cristianismo, o Budismo pode ser considerado uma religião norteada, sobretudo, pela ideia de convivência pacífica.