Este número traz na sessão temática sete artigos que discutem as
modalidades de transplantação religiosa e adaptação cultural da herança
espiritual japonesa nos países que acolheram seus imigrantes,
principalmente no Brasil. As reflexões levam em conta, além de
considerações históricas, aspectos relacionados à dinâmica da
“exportação” de religiões japonesas para outros países, problemas
relacionados ao processo de imigração japonesa bem como teoremas e
conceitos como os do “hibridismo”, do “sincretismo” e, sobretudo, da
“transplantação religiosa”.
terça-feira, 24 de abril de 2012
domingo, 22 de abril de 2012
Entrevista com Frank Usarski
Em 2009 a Idéias e Letras publicou "O Budismo e as outras: Encontros e desencontros entre as grandes religiões mundiais",
do primeiro professor livre Docente do Brasil em Ciências da Religião
Dr. Frank Usarski. O livro trabalha não só através de uma perspectiva
histórica mostrando o diálogo do Budismo com as outras religiões, mas
também mostra um dinâmica de construção de uma religião pela ótica da
Ciências da Religião, só estes dois aspectos valeriam para tornar a obra
um trabalho inédito de qualidade intelectual. Qualquer pessoa que se
interessa pelo estudo das Religiões deveria lê-lo, além de sua abordagem
única, vale dizer que o autor é um dos grandes pesquisadores do tema,
fazendo parte da vanguarda em âmbito mundial, enfim uma leitura
recomendada aqueles que se interessam por Religião e História. Abaixo
segue talguns trechos da entrevista do professor feita por Moisés
Sbardelotto a IHU online de 21/06/2010.
IHU On-Line – Em um dos capítulos
do livro, o senhor fala de “divergências substanciais” entre o Budismo e
as demais religiões mundiais. Em linhas gerais, quais seriam elas?
Frank Usarski – Há alguns temas recorrentes no diálogo entre o Budismo e o Hinduísmo, Judaísmo, Cristianismo e o Islã. O tema mais frequente é o do teísmo nas tradições não-budistas que o Budismo vê como um ponto crítico. Outros assuntos são mais específicos e têm sido abordados em diálogos com uma das quatro religiões acima mencionadas. Quanto ao Cristianismo, por exemplo, o Budismo tem dificuldades de atribuir a Jesus Cristo um status divino que ultrapassa sua apreciação “apenas” como um mestre espiritual. Além disso, uma retrospectiva revela que determinados tópicos ganharam uma relevância maior em certos momentos históricos. Para citar novamente o Cristianismo, budistas europeus do início do século XX criticavam fortemente a presença de missionários cristãos em países como China ou Birmânia e o impacto “destrutivo” das respectivas atuações sobre a cultura budista local.
IHU On-Line – O senhor afirma
que há “um preconceito fortemente enraizado no senso comum [de] que
‘bem lá no fundo’, no âmago, todas as religiões partem dos mesmos
princípios, têm objetivos semelhantes e se unem no desejo de harmonia e
de paz no mundo”. Nesse sentido, é possível uma ética mundial, como
defende Hans Küng?
Frank Usarski – Como
cientista da religião interessado na comparação das religiões, tenho
problemas com a ideia ingênua de que todas as religiões querem a mesma
coisa e compartilham uma essência comum. Ao mesmo tempo, concordo com a
busca de Hans Küng para uma ética mundial. Mas esta só pode der
construída a partir do reconhecimento das particularidades, da
integridade e da dignidade de cada um dos interlocutores envolvidos.
Caso contrário, acontecerá o mesmo que ocorreu com os chamados
“direitos humanos universais”. A respectiva declaração foi lançada em
1948, portanto, em um momento no qual países ocidentais representavam a
maioria dos membros da ONU. Depois da descolonização e da entrada de
países recém emancipados, foram articuladas dúvidas sobre a
“universalidade” dos valores oficialmente sancionados. O resultado foi
que, em 1981, a Organização para a Unidade Africana lançou a chamada
“Carta de Banjul dos Direitos Humanos”, que representa uma reformulação
dos direitos “ocidentais” de 1948. O mesmo vale para Declaração de
Cairo de Direitos Humanos pela XIX Conferência Islâmica dos Ministros
Exteriores em Cairo (1990). Isso significa que há partes do mundo
insatisfeitas com a versão oficial dos Direitos Humanos, uma vez que os
últimos não refletem as experiências historicamente acumuladas por
povos localizados em partes “não-ocidentais” do mundo. É obvio que uma
ética mundial deve transcender essas frentes. Mas isso só pode
acontecer quando as vozes de todos os interlocutores têm o mesmo peso. O
primeiro passo nessa direção é o reconhecimento do fato de que há
muitas plausibilidades em jogo e de que muitas das diferenças têm suas
raízes em doutrinas religiosas distintas e em alguns pontos
inconciliáveis.
IHU On-Line – Pode-se dizer
que o Budismo é uma religião tolerante em relação com as demais? Quais
seriam os limites e possibilidades de diálogo entre o Budismo e as
demais religiões mundiais?
Frank Usarski – O Budismo
desfruta uma imagem muito positiva. Muitos o veem como a mais pacífica
dentre as grandes religiões. Em minha opinião, a doutrina budista tem
esse potencial. Porém, nenhuma religião nasce e se desenvolve em um
vácuo, e poucos dos seus representantes são santos, mas sim sujeitos a
tentações “mundanas”. Há momentos na história que demonstram que o
Budismo também é vulnerável nesse sentido. Isso vale, por exemplo, para
a instrumentalização de instituições budistas locais por parte do
governo japonês em função da perseguição violenta de cristãos no país a
partir de 1631. Mas, ao longo da história, e comparado com as duas
outras religiões universais, isto é, o Islã e o Cristianismo, o Budismo
pode ser considerado uma religião norteada, sobretudo, pela ideia de
convivência pacífica.
terça-feira, 17 de abril de 2012
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